Sunday, July 30, 2006

wednesday, july 5th

A manhã foi para esquecer. Conhecemos o gajo que ficou connosco no quarto do hostel, e depois de termos pedido desculpa por termos feito um bocado de barulho a mais enquanto ele estava a dormir na noite passada, ele respondeu: "It's OK, guys, i've been homeless for a month now so i'm used to the noise"...depois do silêncio, fomos tentar descobrir (a conselho da Ana) um local na zona de Little Italy para vermos o Portugal-França e acabamos num restaurante italiano onde tentei comer mas não consegui, Depois do jogo e da proverbial neura com que fiquei (com direito a lágrimas e tudo, o que nem é normal, mas adiante), toca a seguir viagem para o México! Mais concretamente para a Baja California, onde a parte menos parva da viagem teve lugar. Saímos de SD ao fim da tarde, depois de um passeio pela baía, onde por uma incrível coincidência passamos de carro pelo nosso amigo Tiago Silva, de Sebring, capota em baixo, namorada ao lado, bronze mexicano e sorriso nos lábios...
A entrada no México foi o esperado, sempre a abrir, do not pass go, do not collect $200, siga pela auto-estrada até Ensenada, mini-mercado, cerveja e Doritos e estamos bem. A tarde fez-se noite e continuávamos a percorrer alcatrão, passando por aldeias e terreolas pobres, até que decidimos jantar em San Quintín, terra famosa pelo marisco e especialmente amêijoas. Paramos no primeiro tasco e perguntamos se tinham amêijoas. Dizem que não. Shant, versado na língua de Cervantes, era a nossa linha avançada para contacto com os nativos. Eis a absurda conversa, livremente traduzido do original:

Shant: Boa noite! Tem amêijoas?
Mexicana: Olá! Não, desculpem.
Shant: Ah...mas esta zona não é conhecida pelas amêijoas?
Mexicana: Sim, sim, todos os restaurantes as têm!
Shant: Huh...menos vocês, portanto...
Mexicana: Pois, nós não.
Shant: OK, então sabem-nos indicar um sítio que as tenha?
Mexicana: Qualquer um!
Shant: Sim, mas pode-nos dizer o nome de um?
Mexicana: Hmmm...(coça a cabeça)...assim de repente não me estou a lembrar...
Shant: Ah, OK, obrigado na mesma, vamos à procura então!

De notar que San Quintín não é propriamente Paris, os restaurantes não são assim tantos, por isso saímos de lá com cara de parvos e fomos tentar descobrir outro...sem sucesso, o que levou a que voltássemos ao local original, onde acabamos por comer uma cena mexicana qualquer (machaca, carne esfiada com qualquer tipo de molho assassino) e ficamos empanturrados.
De volta à estrada, pelo meio dos montes no interior da Baja, com o objectivo de chegar a Guerrero Negro, local de um miradouro de baleias que curtíamos ver. No entanto, a meio da viagem, apercebemo-nos que ia ser muito difícil chegar a Guerrero Negro naquela noite, e apontamos para Bahia de Los Angeles para passar a noite.

Dois pontos principais desta saga nocturna inesquecível: o Cacto e o Orelhas. O Cacto era um...cacto monumental no meio dos montes, onde paramos para esticar as pernas, e que podem ver na foto abaixo. O Orelhas é outra história...imaginem-se no meio do deserto, numa estrada interminável, noite cerrada e uma carrinha de gajos ensonados. Eis senão quando o nosso amigo Pedro de Lima observa alguns animais que atravessam a carretera à nossa frente, e começa a vislumbrar um animal, quiçá um roedor, a saltar por entre os arbustos deste desterro. Os restantes companheiros de viagem, ao testemunhar tal criatura, assumiram que era um coelho. Mas Pedro não. Na sua visão retorcida do mundo que o rodeia, darwinianamente reparava que o bicho tinha orelhas do dobro do tamanho da sua cabeça, e umas patas que se assemelhavam às de um cão. Ah, e voava! Como sempre, incapaz de manter as suas opiniões para o interior, começou na demanda do tal Orelhas durante as horas seguintes, chegando ao ponto de ficar tonto de tanto olhar para a berma da estrada. Escusado será dizer que não mais o viu. Ou melhor, viu-o, como todos vimos: mais coelhos. Bem hajas, Lima, pela tua maneira única de conseguires levar às lágrimas de riso os teus orgulhosos companheiros. Que o Deus Criador do Orelhas te dê sempre a clarividência necessária para nunca atropelares um desses. É que não deve haver muitos mais. Se houver um que seja...
Anyway, back to the road trip. Chegamos finalmente a Bahia de Los Angeles pouco depois das 3 da manhã, e como o Sheraton estava cheio, optamos por dormir na praia. E cenário melhor não podia desejar: uma praia deserta, perto de um cais, com o Mar de Cortéz (interior) em frente, um silêncio sepulcral, céu limpo e estrelado, e uma tempestade marítima que se via ao longe, com direito a relâmpagos e tudo! Toca a pegar nos sacos-cama e ala para a praia dormir debaixo das estrelas...

Em San Diego, perto da baía

Uma placa mexicana
(daquelas que eu curto fotografar)

A praia onde dormimos
(foto tirada na manhã seguinte)

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